quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Não devemos ser reféns de uma obsessão

Faz muito tempo que o prefeito confunde mandato eletivo com fundação de uma nova era.

Volta e meia, ou meia volta, lá vem o prefeito com seu mantra predileto: cidade mais limpa, mais alegre do Brasil...Parque mais lindo do Brasil...O mais famoso réveillon do Brasil e do mundo...Prefeito mais competente do planeta Terra, quiçá de outras galáxias, etc...

Com ele é tudo eu, sempre eu, acima de tudo, eu. Ele quer fundar uma eucracia.

O episódio da construção da rotatória para o Shopping Park Lagos é só mais um espetáculo de violência, de autoritarismo, de covardia. Tudo feito na calada da madrugada, inopinadamente, sem qualquer aviso, sem respaldo legal.

É uma situação preocupante, embora não seja o primeiro caso de um governante que enlouquece no cargo. No Brasil, até um presidente da República foi afastado por doença mental. A história está cheia de exemplos de imperadores, monarcas, ditadores que submetiam todos a seus caprichos. Mas como não se tratava de estado de direito, o povo sofria, rezava, implorava a Deus que os livrasse do infeliz mandatário. Como vivemos uma democracia, a coisa muda de figura. Agora, existe a Lei, o Ministério Público, a Polícia Federal e tantos outros órgãos que nos protegem dessas loucuras.

Já expressei, nessa coluna, meus fundados receios de que o prefeito esteja sofrendo de algum tipo de megalomania grave, como aquele personagem do conto O Alienista de Machado de Assis, o Simão Bacamarte.

Para quem não lembra, Simão Bacamarte era médico especialista em doenças mentais, na cidade de Itaguaí. Depois de trancafiar quase toda a população num hospício, a Casa Verde, o doutor descobriu que, na verdade, o único louco era ele. Trancafiou-se no manicômio e lá viveu os seus dias.

Provavelmente, o prefeito não tem o discernimento do vaidoso Simão Bacamarte, portanto, dificilmente vai se enclausurar na própria megalomania. Portanto, em nome da paz social, concito a sua senhoria ( ou sua alteza) para refletir sobre a modéstia.

O fato de ter sido eleito prefeito de uma cidade não o faz imperador do mundo. Aprenda, prefeito, a conferir a seus atos os limites da prudência, do bom senso, da reverência à lei.


Finalmente, quando sair de casa para o trabalho, repita mil vezes, em voz baixa: o outro existe e eu o respeito. Quem sabe, assim, sua senhoria desista de ser sua alteza e com isso não torne todos nós reféns de sua imperial vontade.

Coluna publicada na edição do dia 05/12/13 do jornal Folha dos Lagos

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